Finalmente decidi começar a vida

Eu sempre planejei tudo. Tudo mesmo.

Sempre calculei tudo, sempre fui muito analítico, observador, calculista. Isso era muito importante para mim, e agora parece uma doença, um vício que sem razão de existir me empurra ladeira abaixo. Como é que pensar, que olhar com cautela para as cosas, para as pessoas de repente se tornou ruim? Eu decidi acabar com isso há muito tempo, mas só agora eu estou pronto para dar o próximo passo.

Vou contar um pouco sobre o momento que eu estou vivendo agora. Depois eu conto sobre o caminho que me trouxe até aqui.

Eu estou em Cancún agora, escrevendo essas linhas olhando pela janela do quarto em um Resort. Parece um sonho não? Eu estou sozinho no quarto, tentando entender por que eu ainda não tomei coragem para sair pela cidade me divertindo. Eu já entendi, mas saber é bem diferente de poder agir. Eu sei o que está acontecendo. Eu vim aqui junto com a minha namorada, ela escolheu o local, a cidade, o hotel, enfim… tudo. Fui deixado aqui por que ela precisou iniciar antes do que ela pretendia em um novo emprego. Eu acabei aqui condenado a este paraíso, 4 dias sozinho em Cancún, sem a menor ideia do que eu gostaria de fazer nestes quatro dias e na minha vida.

É disso que se trata: O que fazer da vida. É fácil se esconder atrás de uma pilha de trabalho, ou de qualquer outra distração qualquer, eu fiz isso a vida toda. Agora que eu tenho conciência disso, oportunidade, tempo e dinheiro pra fazer (praticamente) tudo que eu quiser, eu fico paralizado, não sei o que fazer, simplesmente não há vontade em mim. Eu preciso me esforçar muito para me movimentar em qualquer direção, meu primeiro impulso é ficar imóvel, paralizado nesse quarto de hotel, ao invés de viver a vida ao vivo. Eu penso que isso seria para evitar “problemas”, mas eu sei que não é verdade. É o medo que me paraliza, medo de não saber, de não conseguir, de me frustrar, sei lá do que. Só sei que é medo.

Não sei mesmo medo do que é. Sei que tenho usado a “vontade” das outras pessoas para me colocar em movimento. Vim para Cancun por que “namorada queria”, me coloquei a pensar em virar piloto de helicóptero por que o “Ricardo incentivava”. Nunca sou eu a querer, eu só posso realizar algo se for para um terceiro, um cliente, um amigo, a namorada, eu mesmo não posso querer nada. Isso é um inferno em vida. Eu me tranquei aqui e joguei a chave fora, e estou a tanto tempo preso aqui dentro que acho que fui eu quem escolheu ficar aqui, bom… de uma certa forma foi mesmo.

Difícil querer ter algum desejo seu, genuinamente seu e não encontrar nada. Isso não é um negócio muito intuitivo mesmo, como é que se pode querer “querer” algo? O desejo não pode ser planejado, você não pode dizer: “-Bom, agora eu vou querer tal coisa…”, não funciona. O desejo tem que ser genuíno, se não ele fica pesado, fica inverdadeiro, inventado.

Mas até aí tudo bem, se você inventa um desejo, para alcançar um algo maior, por exemplo se você inventa que “precisa” estudar, por que se não, não vai concluir o curso, e assim não vai ter o dinheiro para sustentar a vida de festas e ostentação que você DESEJA, aí sim… talvez você nunca tenha essa vida, talvez você até saiba disso, mas você ainda tem um algo a alcançar.  Mas o que fazer se você olha para si e não vê nada!?!

O vazio é muito frio, você nem vai perceber, mas quando se der conta já será tarde, lá estará você, no meio do nada, sem saber o que deve querer, e sem ter a menor ideia do que quer de verdade.

Eu estou nesse limbo, não sei o que quero, estou vivendo o vazio, vivendo das migalhas do que as outras pessoas quererem para si. Mas pelo menos, aliás felizmente eu, estou ciente disso e posso lidar com esse vazio. Escrever este texto é isso: eu poderia estar na balada em Cancun, solteiro fazendo todo tipo de sacanagem e selvageria, mas EU escolhi escrever esse texto, tudo bem que eu tomei 2 shots de Tequila e 2 cervejas, mas eu ainda sim escolhi escrever isso. Agora penso se não poderia eu ser um escritor ou alguém que faz isso. Será que eu gostaria? Será que isso é legal? Não sei… estou experimentando agora!

Thomas Barrios

Cancún, 17 de Junho de 2013

 

 

 

 

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