Quando eu era pequeno, já tinha um monte de gente ao redor, eu tinha 5 depois 10 irmãos, era genta pra caramba! Meus pais saiam pra trabalhar cedo, e eu ficava responsável por cuidar dos meus irmãos, dar mamadeira, trocar fralda, dar comida, evitar que eles se machucassem. Eu devia ter uns 7 anos de idade, na época eu pensava: “quando é que eles vão entender?, quando é que eles vão começar a se comportar?” Como eu tinha 7 anos calculei que qdo eles chegassem aos 7, eles passariam a ajudar também. Depois qdo eles fizeram 7, pensei…”Bom, talvez não seja na mesma idade para todo mundo”, então vieram os 8, os 9 anos… e eu pensei “Acho que não vai acontecer tão cedo, será que eu sou diferente? será que eles são diferentes? Por que eles não ajudam?”

A vida familiar foi de mal a pior, ladeira a baixo, meus pais tinham um plano: ter 10 filhos, uma família grande, pra que todos se ajudassem “dez filhos se ajudando”, eles também tinham algumas outras idéias “onde come um comem dez!”, ambas ideías muito bonitas, eu não sabia na época, mas não eram só idéias eram princípios, valores, e eles tinham intenções muito boas, mas uma péssima execução. Dez filhos ajudando uns aos outros, fazia muito sentido para mim, o onde “onde come um, comem dez”…bom, nem tanto, mas eu acreditava piamente que se eles acreditavam, isso era verdade também.

O que aconteceu, foi que a pesar das boas intensões, 10 filhos, com dois Pais trabalhando tudo o que podiam, fizeram com q o dinheiro fosse curto, que a atencão disponível para cada filho fosse escassa, e que uma parte considerável do tempo, a gente tivesse que se virar sozinho.

Nós passamos por muitas dificuldades, minha família abriu um negócio, não deu certo, falimos e fomos morar em pernambuco.. não deu certo, voltamos a morar em uma periferia de são paulo, muito muito pobre, foi um dos piores dias da minha vida, enquanto o carro vinha da rodoviária do tietê, conforme ia se afastando do centro e chegando a periferia, mais eu via a pobreza que ia cercando o carro.

Moramos uns 5 ou 6 anos lá, fiz amigos, e minha família falíu de vez, emocionalmente. Entrei em uma escola incrível, uma das 10 melhores do Brasil, a única pública. A escasses já era parte da família, mas a gente lidava com ela, mas meus pais, entraram em colapso, eu acreditei que a culpa era nossa, dos filhos, e que nós eramos uns filhos horríveis, e que tínhamos causado tudo aquilo… levou uns 20 anos para perceber que isso não era verdade.

Eu ainda tenho guardadas, as provas e apostilas da escola, pensei que isso podia ajudar meus irmãos quando eles entrassem nessa escola, eu saí daquele bairro horrível, meus pais se separaram, minha família mudou de lá, mas para um bairro tão pior quanto… ou só pior ainda mesmo. Comecei a namorar, em 6 meses estavámos morando juntos, eu tinha 17 anos, fui morar perto do metrô, na recém inaugurada estação Vila Madalena,  nossos salários somados eram suficiente para pagar o aluguel, e uma compra magra do mês, mas de jeito nenhum eu ia ficar naquele bairro horrível, mudar foi quase como ir morar em outro país.

De lá, eu podia ajudar melhor, podia aprender coissas novas, ganhar mais, e ajudar os meus irmãos… um a um, eles foram morar comigo, passar um tempo na vila madalena, eu tinha certeza absoluta que isso ia ajudar, que eles iriam entender, e passar a prosperar, a se ajudar.

Em 2006 houve uma grande tragédia, e eu me afastei de vez de uma parte importante da minha família, até hoje não falamos mais. Percebi que muitos dos meus valores, dos meus princípios, eram totalmente tortos e errados, coisas que eu tinha ouvido e aprendido desde criança: “o mundo é dos espertos”, “quem não chora não mama”, “você tem que brigar para conseguir as coisas”… estaavm totalmente erradas, minha família teve um colapso físico e físico e emocional, e eu também.

Meu casamento acabou, minha empresa aberta 4 anos antes faliu, meus irmãos foram levados para um orfanato.

O tempo passou, em 2008, estava numa praia linda viajando em férias, me ligaram, uma das muitas, muitas crises familiares que eu aprendi a lidar e a resolver… “Thomas, aconteceu uma coisa! você precisa resolver! onde você está?!”… foi ali que eu, exausto, sem esperança disse “Chega! Vocês são grandes, resolvam!”

Foi meu grito de basta! Eu percebi que, mesmo que eu dedicasse 100% do meu tempo, 100% da minha renda, eu não conseguiria ajudar os meus irmãos, e que pior! Se eu fizesse isso, eu iria aleijar todos eles, eles ficariam dependentes dessa ajuda para o resto da vida! Eu não sabia o que estava fazendo na época, mas depois eu entendi… eu parei de ajudar, eles e eu começamos a prosperar… 2009 foi a primeira vez que eu tive algum dinheiro guardado no final do ano, R$ 10.000, a maior quantia que eu já tinha visto na vida, o que eu fiz com ela? Emprestei para os meus irmãos… pensei “Eles podem pegar esse dinheiro a juros zero, e fazerem algo por si mesmos, um curso, um tratamento, uma qualificação… depois eles me devolvem, e eu vou emprestanto para outro irmão”… não deu certo. Qdo fechei o “Thomas Bank”, tanto eu quanto eles prosperaram ainda mais.

Eu queria ajudar, eu ajudei, eu queria ter ajudado mais.

Hoje meus irmãos são perfeitos, da forma que eles já são.

Mas eu ainda quero ajudar.

Por vezes, eu ajudei outras pessoas, eu tive sucesso em alguns casos, insucessos em outros. As vezes me coloquei em primeiro lugar, isso deu certo, as vezes coloquei os outros em primeiro lugar, isso também deu certo… mas algo estava sempre faltando, um medo constante, uma preocupação constante.

Minha família, minha nova família, meus amigos, meus filhos, todos me ajudaram a superar esses medos, estas preocupações, eu sou um eterno aluno, mas sinto que posso contribuir com o que aprendi com outras pessoas.

Esse é o ”por que”, essa é a motivação em ajudar pessoas.

Ajudar pessoas, por que eu acredito que é possível viver livre de medo paralizante, livre de sofrimento desnecessário.

É possível ter uma vida plena, existem formas de moldar a vida, para ter uma vida plena.

Todo ser humano merece uma vida plena.

 

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